quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa (Álvaro Campos)


domingo, 16 de outubro de 2011

Parceira. Parceria.


Tudo e todos têm que parar um dia.

Muito provavelmente esse seja o pior de todos os posts escrito até aqui, mas depois de ter escrito sobre atletas, escritores, livros e filmes, falado de política e esporte, por que não fazer uma homenagem à minha maior companheira dos últimos anos?

Parceira que esteve presente nos piores e melhores momentos.

Participou de festas e funerais.

Esteve perdida nas ruas e florestas.

Ficou exposta ao sol e chuva.

Sentiu o gélido ar de Toronto e o úmido ar de Manaus.

Foi esquecida em alguns lugares, mas em outros, foi a primeira a ser lembrada.

Nas horas de fome, sempre guardava aquela bolacha no fundo.

E nas viagens, quanta coisa carregava.

Quem me conhece, já sabe de “quem” estou falando.

Minha “filha”. Companheira. Que depois de tanto tempo, remendos e rasgos, precisou aposentar.

Mas que venha o novo. Que venham novas viagens e idéias.

Para um novo período, uma nova mochila!


*Aceito pulseirinhas do Senhor do Bonfim, Nossa Senhora e afins para a nova mochila

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Minhas Histórias dos Outros


Objetivo, simples e preciso, esses são adjetivos para os textos e livros do jornalista Zuenir Ventura.

Em, “Minhas Histórias dos Outros”, o escritor carioca conta os episódios vividos nas redações dos jornais e revistas, as amizades e inimizades feitas ao longo de 50 anos de profissão e narra parte da história de um Brasil marcado por sangue, tortura, brigas e revoluções, nos difíceis anos da ditadura militar.

Ícones da política e cultura fazem parte das memórias de Zuenir e ilustram, de certa forma, o dia a dia de uma das profissões mais brilhante: a do jornalista.

Uma ótima dica para os amantes de história e jornalismo.