terça-feira, 29 de junho de 2010

Ensaio Sobre a Cegueira


Não é uma homenagem a José Saramago, é apenas um relato sobre uma das obras mais famosas de sua autoria.
Ensaio Sobre a Cegueira, conhecido no Brasil mais pelo filme de Fernando Meirelles, é um daqueles livros que você ama ou odeia, logo nas primeiras páginas.

Com um estilo de escrever diferente e cheio de metáforas, Saramago faz uma crítica, dura, a sociedade e aos seres humanos.

É um livro que te faz pensar sobre as suas ações diárias e mostra o quanto a visão é, talvez, o mais importante sentido para o ser humano.
Não apenas a visão daquele quem vê, mas daquele quem vê e compreende aquilo que se vê.
Há muitos cegos que podem ver e muitos que não vê, mas não são cegos.

Afinal, "estar morto é estar cego".



Aos interessados, boa leitura!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Manaus, por que Manaus?


Manaus, por que Manaus?

Essa talvez tenha sido a resposta mais respondida por mim nas últimas semanas.

A resposta é simples: ela é a cidade mais diferente do Brasil.

A sensação que tive, ela é uma mistura de praia com capital, de interior de SP com interior de Minas.
E tudo isso envolvida pela maior floresta tropical do mundo.

A primeira impressão de quando você chega em Manaus, ainda no avião é: "onde é que fui me meter...", afinal, ela é rodeada por rios e floresta.
Mas ao descer do aeroporto, a sensação é de um calor absurdo e de um ar (irritantemente) puro!

Mas ainda, POR QUE MANAUS?
Simplesmente porque ela é histórica, lá é onde está a 1ª Universidade brasileira (UFAM), é lá onde estão as principais construções brasileiras do final do século XIX e começo do século XX (ciclos da borracha) e lá é a cidade que ressurgiu das cinzas, com a invenção da zona franca e atualmente é a 2ª economia do Brasil (em PIB).
Há uma mistura impressionante de séculos e um grande equilíbrio entre o desenvolvimento e a natureza. Além da cultura, que se divide entre indígenas, europeus e nordestinos, com uma pitada de paulistas.
As comidas são únicas, típicas e deliciosas.

Claro, que nem tudo é tão perfeito assim.
O trânsito é caótico (não chega a nível São Paulo, claro), o transporte público é ruim e há uma desigualdade social impressionante.
O que se percebe é que a Copa irá trazer bons frutos à cidade e que por conta do megaevento, a cidade se desenvolverá muito na área de infraestrutura (principalmente a parte de esgoto), cultural (o turismo, especialmente para brasileiros é muito deficiente) e esportivo.

Se fosse para definir em uma palavra a viagem, SURPREENDENTE seria a escolhida.

Talvez haja contestação, mas, sem dúvida, foi a cidade mais surpreendente que conheci.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Flor e a Náusea

Desde a criação deste Falatório, nunca quis fazer algo ctrlc/ctrlv, mas foi inevitável em alguns momentos escrever sobre alguns grandes escritores.
Desta vez, vou me lembrar de Carlos Drummond de Andrade, em um poema nem tão conhecido, mas que considero sensacional.

A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas,

Vou de branco pela rua cinzenta.

Melancolias, mercadorias espreitam-me.

Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:

Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

O tempo pobre, o poeta pobre, fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

O sol consola os doentes e não os renova.

As coisas.

Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.

Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.

Nenhuma carta escrita nem recebida.

Todos os homens voltam para casa.

Estão menos livres mas levam jornais

e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?

Tomei parte em muitos, outros escondi.

Alguns achei belos, foram publicados.

Crimes suaves, que ajudam a viver.

Ração diária de erro, distribuída em casa.

Os ferozes padeiros do mal.Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.

Ao menino de 1918 chamavam anarquista.

Porém meu ódio é o melhor de mim.

Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.

Uma flor ainda desbotada

ilude a polícia, rompe o asfalto.

Façam completo silêncio, paralisem os negócios,

garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.

Suas pétalas não se abrem.

Seu nome não está nos livros.

É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde

e lentamente passo a mão nessa forma insegura.

Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.

Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.

É feia.

Mas é uma flor.

Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.